Efeito neve:

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Termas Romanas de Chaves








LARGO DO ARRABALDE:



“O Largo do Arrabalde, e a área envolvente, terá sido criado na primeira metade do século XIV, resultado da elevada afluência de população a Chaves, que obteve terras através das políticas de povoamento de Afonso III, sendo de sua iniciativa a fundação desta póvoa nova (Dias 1990, 45-46; Marques et alii 1990, 29 e Teixeira 1996, 123 e 210).

Desde então, até hoje, sofreu variadas metamorfoses que, até ao início dos trabalhos arqueológicos, tiveram como derradeira grande intervenção, em meados do século passado, a construção do palácio da justiça (Dionísio 1995, 420)” *.

Antes da construção do Palácio de Justiça o largo era constituído por uma ampla praça onde estava situado o Mercado Municipal.

No extremo NE existia uma frente de casas adossadas ao interior da cortina que terminava no Meio-Baluarte da Vedoria, do qual haviam já sido demolidas as elevações da face e do lado, que fechava na Rua Direita com a porta principal da vila.

Em Finais do séc. XIX o Senado da Câmara mandou terraplanar o terreno ocupado pelo meio-baluarte, construindo um muro a nascente, sobre o qual se edificou uma frente porticada (Arcada do Arrabalde).

* Silva, Armando Coelho Ferreira da; Pinto, Filipe Soares; Quintino, Núria e Teixeira, Vera (2006-2007), “Novos dados sobre o urbanismo e história da cidade de Chaves”. Revista da Faculdade de Letras: ciências e técnicas do património, I série vol. V-VI, 549-565.



Largo do Arrabalde de finais do séc. XIX e inícios do séc. XX









Aspecto do Largo do Arrabalde após a construção do Palácio de Justiça (1956)





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OS TRABALHOS ARQUEOLÓGICOS



Na sequência dos trabalhos de avaliação de impacte arqueológico do projecto de construção de um parque de estacionamento subterrâneo, foram descobertos indícios da presença de estruturas termais.

Tendo em conta a monumentalidade e o grande interesse científico dos achados, deu-se início a um projecto de estudo e valorização que culminará na musealização do sítio.

Durante os trabalhos arqueológicos detectou-se uma longa sequência estratigráfica da qual se destacam:

- Os restos do terrapleno da muralha da restauração;

- Uma conduta de escoamento de águas coetânea à muralha que descarregava no fosso, composta por silhares medievais com siglas de canteiro reaproveitados da muralha medieval;


Conduta coetânea á muralha




- As fundações de uma casa do arrabalde, anterior à construção da muralha da restauração, anexa a uma área agrícola (hortas). Encostado ao lado exterior do muro da casa encontrava-se um canteiro constituído por lajes graníticas fincadas na vertical.


Casa seiscentista com canteiro virado para a área de horta e pedra de lar





- O conjunto descrito no item anterior estava construído sobre um outro de cronologia medieval composto também por um muro, mas com pedras maiores e por uma casa, também de maiores dimensões e com uma área de combustão. Estratigraficamente associados a este conjunto, mas do lado de fora do muro, encontrámos uma grande quantidade de escórias de fundição e numerosas ferraduras, canelos e restos de cota de malha, que indiciam a localização da oficina de um ferreiro.


Forja Medieval




- Sob este conjunto de unidades estratigráficas encontrava-se uma série de depósitos aluviais de areias e limos, correspondentes a um momento de abandono do local, sob os quais detectámos as valas de violação do balneário termal romano, abertas nas camadas de derrube da cobertura deste.


Derrube organizado dos tijolos que compunham a cobertura em abóbada de canhão da piscina A




Algumas destas valas foram abertas imediatamente após a derrocada do edifício, uma vez que encontrámos uma sepultura romana em tégulas formando uma caixa que continha um esqueleto em conexão anatómica, escavada nos derrubes da cobertura. A maior parte das valas estavam abertas ao longo das paredes da estrutura, de modo a recuperar, com o mínimo esforço os silhares bem aparelhados que as compunham.


Sepultura de tegulae escavada nos derrubes da cobertura



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AQUAE FLAVIAE


Tal como as restantes cidades romanas com o elemento Aquae no seu nome, cerca de uma centena em todo o Império e oito conhecidas na Hispania, Aquae Flaviae era uma verdadeira estância termal no período romano, sendo o balneário o núcleo definidor do aglomerado urbano. Tratavam-se de termas vocacionadas para o tratamento de doenças e este facto, junto com o de estarem, seguramente, associadas a um centro de culto dedicado à divindade que se julgava propiciar os efeitos benéficos às suas águas (neste caso, possivelmente as Ninfas), atraíam gente de diversos lugares, por vezes bem distantes.

A cobertura da área central, incluindo a piscina A e a área de acesso a esta, era composta por uma grande abóbada de canhão em tijolo (opus laetericium) revestida a opus signinum, da qual foi detectado o derrube organizado. Algumas das condutas seriam também cobertas por telhados em tegulae e imbrex.

Ainda que existam indícios da presença de outros balneários romanos de tipo terapêutico no actual território português (Termas da Fadagosa, Caldas de Vizela, Caldas de Canavezes, Caldas de Monchique Nossa Senhora dos Banhos, etc.) apenas subsistem as ruínas de dois: as Termas de S. Vicente, em Penafiel e as de S. Pedro do Sul sendo que nenhum dos dois se pode comparar em monumentalidade, estado de conservação e espólio com o conjunto em apreço.


Fragmentos do revestimento em opus signinum que cobria a piscina A



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O COMPLEXO BALNEAR


A parte do complexo balnear escavada inclui:

- Uma piscina de grandes dimensões (13,22 x 7,98 m) com seis degraus no topo Norte, que designámos por “piscina A”;

Fundo e escadas da piscina A após a limpeza




- Uma outra, parcialmente escavada, com seis degraus a toda a volta (piscina B);

- Um tanque pequeno para tratamentos individuais (piscina C) cujo acesso se fazia pela borda da piscina A;


Piscina C




- Uma sala com pavimento em opus signinum e ralo para escoamento de águas, que serviria para tratamentos com água termal;

- Três sistemas de condutas separados: um de alimentação das piscinas; outro de escoamento do excesso da nascente, e um terceiro para condução das águas residuais.


Tanto as piscinas como as condutas sofreram alterações ao longo da utilização do balneário, abandonado em finais do séc. IV d.C. na sequência da derrocada da abóbada de cobertura.



A informação recolhida é da autoria do arqueólogo do Município de Chaves, Dr. Sérgio Carneiro.


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